Homem-Aranha 3 lota salas de exibição do mundo inteiro e, em sua primeira semana, já bate recordes de bilheteria
Por Iran Schleder
Em exibição simultânea em 31 salas de cinema de Curitiba (isso nunca havia acontecido antes na cidade) e com cerca de US$ 300 milhões gastos em sua produção, Homem-Aranha 3, tornou-se o filme mais caro da história do cinema. O último filme da trilogia também vem batendo recordes atrás de recordes de bilheteria em diversos países da Ásia à América do Sul, e se torna um significante exemplo para o público questionar o mundo em que vivemos influenciados por imagens e espetáculos de todas as partes.
O próprio roteiro da terceira edição do filme e a história do personagem Peter Parker (Tobey Maguire) dá sinais de discussão da questão. Por que esta fantástica popularização de Homem-Aranha no mundo inteiro, num filme que arrecadou em seu primeiro dia de estréia na América do Norte mais de US$ 59 milhões?
O segredo dessa identificação popular pode ser que os super-heróis antes da criação de “Homem-Aranha” na década de 60 possuíam características distantes de seu público, sempre perfeitos e politicamente corretos. Isso até surgir Peter Parker, um jovem órfão, nerd, cheio de insegurança e questionamentos de toda ordem. O mesmo acontece conosco que vivemos num tempo complexo, mesclado de espetáculos naturais e artificiais, contido num mundo de culturas que sofrem intensas mutações. O fato se repete com o personagem que se transforma em Homem-Aranha, fruto do sentimento da culpa que carrega pela morte de seu tio Bem.
Também nos anos 60 o conceito de Sociedade do Espetáculo é criado: a gênese do pensamento contemporâneo sobre a questão do espetáculo tem suas raízes no pensador situacionista pós-marxista francês Guy Debord (1931-1994) e em seu livro – A sociedade do espetáculo – escrita em 1967. Nele Debord critica a todo e qualquer tipo de imagem que leve o homem à passividade e à aceitação dos valores preestabelecidos pelo capitalismo sem refletir sobre a singularidade de pensamento e realidade do homem pós-moderno. O mesmo pode ser dito do personagem Homem-Aranha no terceiro filme da trilogia da série. Nele o embate interno de Peter Parker é o ponto alto de “Homem-Aranha 3” e um dos melhores momentos da série dirigida por Sam Raimi – saudada pelos fãs como uma das melhores adaptações das histórias em quadrinhos de super-heróis para o cinema de todos os tempos.
Homem-Aranha e a Sociedade do Espetáculo
No início da trama, Homem-Aranha tornou-se uma vítima do próprio sucesso. Ele continua a ser um nerd, mas pela primeira vez tem ao seu lado a garota que ama e torna-se uma celebridade adorada pelos nova-iorquinos (adoração que o personagem nunca alcançou nas histórias em quadrinhos). A fama repentina sobe à cabeça de Parker e atrapalha seu relacionamento com Mary Jane, que passa por uma fase de decadência profissional. O deslumbramento de Parker com a fama e os problemas com a namorada lançam o herói numa jornada em direção ao pior de si mesmo, que é rapidamente intensificada com a aparição de uma criatura que passa a viver em simbiose com o organismo do Homem-Aranha. Mas afinal, o que isto tudo tem haver com a sociedade do espetáculo?
O filme que mais arrecada bilheteria na história e levam milhões de fãs a consumirem fortunas em sulvenirs do aracnídeo hollywoodiano também é uma grande meta narrativa do que acontece com o homem de hoje. Pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, os indivíduos em sociedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida, e passam a viver num mundo movido pelas aparências e consumo permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias. A sociedade do espetáculo é o próprio espetáculo, a forma mais perversa de ser da sociedade de consumo. Porém, isto não quer dizer que devemos nos afastar, envaidecidos, da sociedade – como o próprio Homem-Aranha no filme –, mas sim, refletir com a ajuda da história do personagem sobre as questões que realmente são importantes para nós enquanto seres humanos, sem super-poderes ou cachês milionários.
O espetáculo, conforme diz Debord, consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. Os meios de comunicação de massa são apenas “a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores”.
O consumo e a imagem ocupam o lugar que antes era do diálogo discutido no seio familiar e produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos. Assim, pode-se dizer que “o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida social como simples aparência, atingindo a crítica que aflige a verdade do espetáculo e o descobre como a negação visível da vida; como negação da vida que se tornou visível”.
Ao que tudo indica o espetáculo do Homem-Aranha ainda continua e os fãs que lotam as salas de cinema de Curitiba à Pequim já podem comemorar e aguardar outra possível continuação. O diretor Sam Raimi disse ter interesse em fazer um “Homem-Aranha 4”, mas a a presença de Tobey Maguire como protagonista não está confirmada. O ator desconhecido que chegou a astro depois da trilogia chegou a revelar à imprensa australiana, que “Homem-Aranha 3” seria seu último filme na pele do herói. Basta, agora, a Sam Raimi administrar este incrível poder de fazer fortunas que a trilogia do Homem-Aranha proporcionou aos cofres da Columbia Pictures e decidir se esta história acaba ou não. Como diria o Tio Ben a Peter Parker nos quadrinhos: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.
Recordes
Com cerca de US$ 300 milhões gastos, “Homem-Aranha 3”, tornou-se o filme mais caro da história do cinema. O longa-metragem bateu o recorde de US$ 207 milhões do remake King Kong (2005), de Peter Jackson.
“Homem-Aranha 3” se tornou o filme que mais arrecadou em seu primeiro dia de estréia na América do Norte, ao chegar a US$ 59 milhões. Até agora o filme que detinha este recorde era “Piratas do Caribe: O Baú da Morte”, com US$ 55,8 milhões.
Uma das marcas inéditas foi obtida antes mesmo da primeira exibição – o filme foi distribuído por 4.252 salas de cinema nos EUA, superando as 4.163 de Shrek 2, em 2004.
No Japão, o primeiro dia de sessões bateu os 415 milhões de ienes, equivalente a 3,47 milhões de dólares.
O filme “Homem-Aranha 1”, que estreou em 2002, arrecadou US$ 39 milhões no primeiro dia, e dois anos depois, a continuação obteve US$ 40,4 milhões na estréia.
“Homem-Aranha 3” bateu recordes de bilheteria nos primeiros dias de exibição na China, onde o governo limita o número de filmes estrangeiros a 20 por ano nos cinemas e a pirataria costuma dizimar a arrecadação.
Ainda na China, nos cinco primeiros dias de projeção, “Homem-Aranha 3” arrecadou US$ 8,4 milhões e deve virar o filme estrangeiro que mais arrecadou nos cinemas chineses em todos os tempos.